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(Ter, 05 Jun 2018 14:18:00)

REPORTER: Essa canção da banda de forró Falamansa repete o que muitos de nós sabemos desde criança: lugar de lixo é no lixo! Mas, dar uma destinação correta aos resíduos vai muito além disso. É importante sabermos qual a melhor forma de nos livrarmos daquilo que não queremos mais. Mas, sabemos o quanto de lixo produzimos e o impacto que ele causa no nosso dia-a-dia? No Distrito Federal, por exemplo, cada habitante produz, em média, 1,6 quilos de lixo por dia. 

Rodrigo Sabatini, presidente do Instituto Lixo Zero Brasil, chama a atenção para o preço que esse lixo tem. Ele afirma que o valor que arrecadaríamos com ele poderia ser repassado para outros setores do país.

Rodrigo Sabatini – presidente do Instituto Lixo Zero Brasil

“O nosso lixo custa aproximadamente 170 reais, por pessoa, ano. Uma família de quatro pessoas vai pagar 850 reais pelo lixo dela no ano. Então é um dinheiro que a gente está desperdiçando, que a gente poderia estar botando na educação, em uma escola, num posto de saúde, num parque, numa melhoria para a nossa comunidade e a gente está gastando para aterrar e transportar até o aterro, até o lixão”.

REPORTER: Com a intenção de diminuir a quantidade de lixo que vai para os aterros, o Distrito Federal aprovou a Lei dos grandes geradores de resíduos sólidos, a lei 5.610 de 2016. Com ela, todo o estabelecimento que produz diariamente uma média de 120 litros de lixo orgânico, por dia, deve fazer um plano de gerenciamento desses resíduos, dar uma destinação adequada a eles e pagar por isso. Uma das opções para evitar que o lixo orgânico vá para o aterro é destinar esses resíduos para a compostagem. Um processo biológico que valoriza a matéria orgânica e a transforma em adubo.  Taynah Serpa, que é engenheira ambiental, se baseou no exemplo de países Europeus e abriu uma empresa de compostagem, em Brasília.  

Taynah Araújo Serpa – engenheira ambiental

“Eu morei durante um ano na Irlanda e lá praticamente todo o resíduo orgânico é compostado no país inteiro. Então é muito comum pra eles na Irlanda, na Alemanha no Reino Unido… com certeza, nada de orgânico vai para o aterro sabe, porque realmente a gente está desperdiçando dinheiro. Não só dinheiro, a gente está fazendo com que aumente os problemas ambientais, os problemas de saúde das pessoas que moram perto de lixão, de aterro.”

REPORTER: Para Rodrigo Sabatini, presidente do Instituto Lixo Zero, transformar o lixo orgânico em adubo pode auxiliar o Brasil no setor agrícola.

Rodrigo Sabatini – presidente do Instituto Lixo Zero Brasil

“No nosso lixo, nós temos no Brasil uns 40, 45% que é material orgânico. Cascas de fruta, comida, folhas. Esses 40, 45% pode muito bem se transformar em adubo. Esse adubo ele poderia suprir muito bem, parte das nossas necessidades como país agrícola. Nossa maior evasão de divisas no país é na compra de fertilizantes. Então, a gente teria aí um bem enorme, gerando emprego aqui.”

REPORTER: De acordo com a lei dos grandes geradores, a outra parte do lixo produzida, a que pode ser reciclada, é destinada sem custo para as cooperativas de catadores.  Uma das maiores empresas de reciclagem no Distrito Federal processa oito toneladas de resíduos por mês, entre papel, papelão e plástico, que é transformado em sacos de lixo, baldes e galões para produtos de limpeza. Ao todo, são destinadas para a reciclagem 127 toneladas de lixo por ano, apenas 3% do total produzido no DF. 

O José Salustiano, mais conhecido como Zezinho, é presidente da COOPERE, uma dessas cooperativas. Ele trabalhava no lixão da Estrutural. Separava os resíduos recicláveis dos não recicláveis e dava uma nova destinação a eles. Depois do fechamento do lixão e a criação de um novo aterro, Zezinho explica que vários catadores tiveram que largar a profissão. 

José Salustiano – presidente COOPERE

“Eu acho que a grande importância hoje que nós temos e precisamos seria o suporte do governo né? Que nessa força política agora fez foi andar pra trás e o medo da gente é que ao iniciar o próximo governo provavelmente esse projeto que nós estamos com ele pode não dar continuidade né? Se não der continuidade aí a gente fica na pior. Se não acontecer pode praticamente acabar a história de cooperativa.”

REPORTER: Rodrigo Sabatini, presidente do Instituto Lixo Zero, destaca o potencial que o lixo tem de gerar empregos e renda.

Rodrigo Sabatini – presidente do Instituto Lixo Zero Brasil

“Tem um dado que é: a cada dez mil toneladas que você envia de material para o aterro, você gera só um emprego. Se você mandar esse material para uma compostagem você vai gerar de 6 a 20 empregos. Se você vai mandar isso para a reciclagem você vai gerar de 20 a 100 empregos. E se você vai mandar para o reuso, você vai gerar trezentos empregos. Então, a cadeia de valor, de um processo lixo zero onde você não manda nada para um aterro ela gera emprego, ela gera renda, ela apoia todos os empreendedores, atrai investidores, incrementa arrecadação de impostos.”

REPORTER: Mas para que todo esse ciclo aconteça, nós temos que dar o primeiro passo. Como? Separando o lixo de forma correta em nossas casas, no trabalho, onde estivermos. O Vitor Hugo, que é engenheiro ambiental, deu esse passo e incentivou os que moram com ele a darem também. Agora, ele e a família fazem a coleta seletiva. 

Vitor Hugo Dutra de Oliveira – engenheiro ambiental

“Aqui em casa a gente separa o lixo em três porções diferentes. Reciclado, rejeitos e orgânico. O reciclável que a gente separa é todo o resto de embalagem, plástico, alumínio papelão. Essas coisas. O orgânico a gente tem uma empresa que a gente paga uma mensalidade para ela e semanalmente ela vem aqui em casa e recolhe os orgânicos. Daí ela faz compostagem e como recompensa ela devolve pra gente o adubo, mudinha, orgânico ou algum alimento orgânico e o rejeito a gente separa a parte também que é muito pouco. Que é praticamente material de banheiro.”

REPORTER: O engenheiro ambiental também destaca o que ainda falta para a população ter uma consciência sustentável. 

Vitor Hugo Dutra de Oliveira – engenheiro ambiental

“Educação ambiental é muito importante. Essa conscientização deve ser propagada de uma forma mais abrangente. Mas ao mesmo tempo ela não é tudo. Precisa de incentivo. Porque, por exemplo, hoje as políticas do Brasil em geral e aqui de Brasília, especificamente, incentivam, priorizam a utilização de aterro sanitário. Então não tem um incentivo, por exemplo, para que as pessoas construam pátios de compostagem para receber esse resíduo orgânico. Incentivos fiscais a outros tipos de incentivo que o estado poderia dar.”

REPORTER: O engenheiro alerta que a grande maioria dos materiais que jogamos no lixo pode e deve ser reciclada para contribuir com a preservação do ambiente. Então, fica o convite: em vez de apenas jogarmos o lixo no lixo, vamos transformar o lixo em coisas novas? Isso movimenta a economia, gera empregos e ajuda na preservação do nosso planeta. 

 

Reportagem: Samanta Peçanha
Locução: Dalai Solino

 
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